quarta-feira, 30 de maio de 2012

A autarquia e a sua actuação no plano do urbanismo


            Desde os primórdios da nossa civilização que a organização da vida social se faz em aglomerados urbanos, os quais vão dando origem a aldeias, vilas ou cidades em função do crescimento populacional.
            Um bom planeamento dos espaços urbanos é um factor fundamental para potenciar um crescimento harmónico das nossas cidades, de modo às tornar mais atractivas, com o objectivo de conseguir fixar mais pessoas e dar-lhes melhor qualidade de vida.
            É preciso olhar para o futuro de modo a poder traçar as linhas mestras tendentes a construir um esqueleto que possa ser a uma base sobre a qual irá ser assente toda a orgânica da cidade, a qual deve ser capaz de originar um todo harmonioso, equilibrado e funcional permitindo maximizar os recursos. Deve ainda ser sustentável, capaz de se reciclar, procurando que a urbanização dos seus pontos mais distantes se faça em polos concentrados ao longo de eixos funcionais, quer a nível de mobilidade, quer a nível de infra-estruturas de apoio, evitando assim a tradicional dispersão anárquica, a qual onera em demasia a promoção da qualidade de vida dos munícipes, com a agravante de proporcionar em termos práticos um resultado de qualidade inferior.
            As nossas actuais vilas e cidades assentam nas suas raízes primitivas e medievais, as quais se foram progressivamente expandindo para a periferia. No norte do país, onde predomina o minifúndio, a urbanização desenvolveu-se de forma dispersa e desorganizada ao longo de caminhos tortuosos nos quais as famílias iam edificando os seus lares, bem como o dos seus descendentes, tornando a malha urbana uma complexa manta de retalhos.
            Os romanos fizeram muita das suas cidades a partir do zero com um esquema de organização ortogonal que maximizava os recursos a nível de transporte, abastecimento de águas e saneamento.
            Hoje em dia o panorama urbanístico é diferente, dando origem a um caleidoscópio de cimento disforme, confuso e muitas vezes sem nexo, fazendo das nossas cidades, vilas ou aldeias uma enorme favela de betão crescendo na direcção do céu.
            Além do aspecto inestético resultante da confusão e assimetria das edificações, existe em muitos casos um problema de qualidade de construção, fazendo com que muitas das nossas cidades tenham um aspecto horroroso e degradado.
            É evidente muito difícil corrigir erros que se foram acumulando sobre erros, patrocinados pela especulação e pelo lucro fácil de quantos viam na edificação urbana um “El Dorado” dos tempos modernos, quase sempre com a conivência – nem que seja por omissão – das autarquias.
            Apesar dos aspectos negativos, a construção agressiva das últimas décadas, fomentada pela democratização do crédito bancário, foi também um factor de desenvolvimento da economia, de criação de riqueza e de postos de trabalho, dando uma nova dimensão às cidades, vilas e aldeias, possibilitando que aí se estabelecessem um conjunto de serviços, quer públicos, quer privados, proporcionando em conjunto uma melhoria da qualidade de vida e do bem-estar aos seus habitantes, a qual seria impossível sem esse mesmo desenvolvimento.
            Hoje em dia, passada a idade de ouro da construção civil, numa altura em que há mais fogos disponíveis do que famílias para os habitar, é necessário parar para pensar, assumir os erros do passado e traçar um rumo no sentido de os corrigir.
            É fundamental            dar um sentido ao desarranjo urbanístico, lavar a cara à cidade, arejar o seu espaço físico, realçar o património que possui, abrilhantar, embelezar, passar o lustro, compô-la com jardins, parques, de modo a dar-lhe vida que a reanime dum destino de agonia, degradação e exclusão, tendo inteligência e habilidade para saber construir harmonias complexas a partir de notas aparentemente desconexas.
            A gestão urbanística da cidade é feita através do seu Plano Director Municipal (PDM), o qual é um instrumento que estabelece a estratégia de desenvolvimento, sendo também o modelo de organização espacial do território municipal. A sua elaboração é obrigatória e compete à Câmara Municipal. Os Planos Directores Municipais, obedecem ao Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro, alterado pelo Decreto-lei n.º 310/2003, de 10 de Dezembro, e pelo Decreto-Lei n.º 316/2007, de 19 de Setembro.
            O PDM deve ser dirigido de maneira à cidade se enquadrar no princípio das chamadas “Smart Cities”, com o objectivo de conseguir cidades competitivas, sustentáveis, conseguindo uma optimização dos vários recursos, como sejam os transportes, energias, saneamento e comunicação.
            Como há um excesso de construção em relação às necessidades, um dos objectivos será conseguir o chamado saldo zero para redefinir novas áreas urbanizáveis.
            É necessário investir na reabilitação urbana, sabendo que um dos custos muito negligenciados por quem adquire uma habitação são os custos de manutenção das suas estruturas. É necessário apostar no centro urbano como motor e coração da cidade, para tentar contrariar a tendência deste ficar cada vez mais abandonado a favor de outros espaços mais modernos e atractivos que crescem na periferia.
            Um dos grandes problemas dos centros urbanos são os prédios degradados, desabitados e abandonados à degradação do tempo. É necessário reinventar funções para edifícios desactivados, de modo a conseguir um novo conceito de cidade capaz de permitir que o espaço do centro urbano seja competitivo.
            Para finalizar parece-me fundamental fazer respirar a cidade, apostando numa rede de atractiva de parques verdes ligados entre por espaços pedonais e ciclovias, de modo a tentar conciliar o urbanismo com a natureza.

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